Cecília Meireles iniciou-se na literatura participando da chamada "corrente espiritualista", sob a influência dos poetas que formariam o grupo da revista Festa, de inspiração neo-simbolista. Posteriormente, afastou-se desses artistas, sem, contudo, perder as características intimistas, introspectivas, numa permanente viagem interior. Em vista disso, sua obra reflete uma atmosfera de sonho, de fantasia e, ao mesmo tempo, de solidão e padecimento.
A língua do nhem
Havia uma velhinha
que andava aborrecida
pois dava a sua vida
para falar com alguém
E estava sempre em casa
a boa velhinha,
resmungando sozinha:
Nhem-nhem-nhem-nhem-nhem...
(Cecília Meireles)
Um dos aspectos fundamentais da poética de Cecília Meireles é sua consciência da transitoriedade das coisas; por isso mesmo, o tempo é personagem central de sua obra: o tempo passa, é fugaz, fugidio. A vida é fugaz e a morte, uma presença no horizonte. Há evidências disso no seguinte trecho de uma entrevista concedida pela autora:
"Essas e outras mortes ocorridas na família acarretaram muitos contratempos materiais mas, ao mesmo tempo, me deram, desde pequenina, uma tal intimidade com a Morte que docemente aprendi essas relações entre o Efêmero e o Eterno que, para outros, constituem aprendizagem dolorosa e, por vezes, cheia de violência. Em toda a vida, nunca me esforcei por ganhar nem me espantei por perder. A noção ou o sentimento da transitoriedade de tudo é o fundamento mesmo da minha personalidade."
Em Romanceiro da Inconfidência, Cecília retoma uma forma poética de tradição ibérica, denominada romance (composição de caráter popular, escrito em redondilha), para reconstruir o episódio da Incofidência Mineira e extrair, de um fato passado, datado, limitado geográfica e cronologicamente, valores que são eternos e significativos para a formação da consciência de um povo. A própria autora afirma tratar-se de "uma história feita de coisas eternas e irredutíveis: de ouro, amor, liberdade, traições...".
E exatamente para o mais eterno desses valores -a Liberdade- a poeta (como ela dizia que era) dedica uma das mais belas estrofes da nossa literatura. São versos escritos em redondilha maior (de sete sílabas poéticas):
"Atrás de portas fechadas,
à luz de velas acesas,
entre sigilo e espionagem
acontece a Inconfidência.
Liberdade, ainda que tarde
ouve-se em redor da mesa.
E a bandeira já está viva
e sobe na noite imensa.
E os seus tristes inventores
já são réus - pois se atreveram
a falar em Liberdade.
Liberdade, essa palavra
que o sonho humano alimenta
que não há ninguém que explique
e ninguém que não entenda. "
Isso é apenas um breve resumo da obra da maravilhosa Cecília Meireles.
Leonor , obrigada por essa Blogagem Coletiva! Foi legal homenagear a Cecília Meireles.
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